Resenha: a arte do diálogo

Resenha do artigo publicado na revista The Economist

The art of conversation*

Churchill é considerado um orador magnífico, talvez o maior do século XX, mas também pode ser descrito como um ouvinte pobre. Uma pequena lista dos maiores oradores da língua inglesa, segundo o artigo, não poderia desprezar Christopher Hitchens, Sir Patrick Leigh Fermor, Sir Tom Stoppard, Studs Terkel e Gore Vidal.

Grande brilho, poderes fantásticos de memória e inteligência rápida são claramente características valiosas para o "bom conversador". O charme também pode ser uma característica útil. Para aqueles julgam que o poder da oratória é uma qualidade necessária, existem manuais e dicas que compilam um enorme legado de estudos sobre o tema. De tudo, importante pensar que mesmo reconhecendo a existência de diferentes estilos, há aspectos certas e errados que devem ser conhecidos e observados por quem pretende ser um bom parceiro de conversa. 

Segundo Cícero, (44 AC) uma boa conversa exige "alternância" entre os participantes. Em seu ensaio "Dos deveres" (On Duties), Cícero observou que ninguém, até onde ele sabia, tinha estabelecido as regras para a conversa comum, embora muitos o tivessem feito para falar em público então ele resolveu listar os requisitos que julgou essenciais. São eles:

1. Não interrompa seu interlocutor, seja gentil

2. Fale com clareza

3. Fale facilmente e não fale demais

5. Lide seriamente com assuntos sérios e graciosamente com assuntos mais leves

6. Nunca critique as pessoas por trás

7. Não fale sobre si mesmo

8. E, acima de tudo, nunca perca o seu temperamento

Provavelmente, apenas duas regras faltaram na lista de Cícero e foram complementadas por Dale Carnegie, um professor de oratória (1936) que sentenciou que os americanos precisavam se educar na "bela arte de se darem bem" (“the fine art of getting along”). Seu livro "Como ganhar amigos e influenciar as pessoas" já vendeu mais de 15 milhões de cópias e é editado há mais de 70 anos.

As duas regras complementares de Dale Carnegie são:

9. Lembre-se dos nomes das pessoas 

10. Seja um bom ouvinte 

Além desses aspectos, Carnegie também menciona:

11. Interesse-se genuinamente por outras pessoas,

12. Sorria,

13. Fale sobre assuntos de interesses da outra pessoa e

14. Faça seu interlocutor sentir-se importante.

As regras de bom diálogo se aplicam a qualquer sociedade, variando sutilmente de país para país. Os italianos são mais tolerantes à interrupção, os americanos à contradição e o inglês às formalidades, por exemplo. 

As regras de conduta para estabelecer bom diálogo são muito similares com as regras de educação e convivência em geral, como formularam Penelope Brown e Steven Levinson, pioneiros na teoria da educação ("politeness theory”). Brown e Levinson defendem a tese que as pessoas provavelmente não querem ser rudes com as outras mas podem acabar criando situações e quando isso acontece, há uma gama de "estratégias de cortesia" que são mais bem sucedidas quando se tem como propósito dar a chance de descobrir o que os outros pensam sobre o tema ou a situação em debate. 

O princípio de cooperação é uma das coisas que separa a conversação de outras atividades semelhantes, como palestras. Outras qualidades que ajudam a definir a conversa incluem a distribuição igualitária dos direitos dos falantes; respeito mútuo entre os oradores; espontaneidade e informalidade.

Se o diálogo e a polidez têm características comuns no tempo e na cultura, não é de surpreender que novos manuais encontrem pouco a acrescentar em termos de princípios fundamentais. Eles podem, no entanto, oferecer dicas específicas que são úteis nas circunstâncias corretas, e estes, também, mudam pouco com os anos. 

É fácil ver a utilidade de tais dicas, mas elas não capturam nenhuma alegria que vem do domínio da conversação. Para os entusiastas da conversa ela é uma arte, um dos grandes prazeres da vida, até mesmo a base da sociedade civilizada. 

De Staël, grande conversadora e intelectual do antigo regime francês, definiu conversa como "um meio de reciprocidade e rapidez de dar prazer uns aos outros; de falar com a mesma rapidez com que se pensa; de se divertir espontaneamente; de ser aplaudido sem trabalhar ... Um tipo de eletricidade que faz voar as faíscas e que alivia algumas pessoas da carga de seu excesso de vivacidade e desperta os outros de um estado de apatia dolorosa ".

A conversa sobreviveu aos piores desafios e sem dúvida sobreviverá mais. Fazer amigos e influenciar pessoas (para usar o título de Dale Carnegie), ao fim e ao cabo, requerem coisas muito similares: charme, cortesia e o desejo de compreender as idéias e opiniões dos outros. 





* O texto publicado no blog é um resumo interpretado do artigo original que pode ser encontrado em http://www.economist.com/node/8345491?fsrc=scn/fb/te/pe/ed/chatteringclasses. Dec 19th 2006





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