CHÁ DA TARDE COM A DONA TRISTEZA


Eu me interesso muito por sentimentos. De onde eles vêm, pra onde eles vão, porque nascem, como crescem, se reproduzem e morrem. Sou uma observadora dos ciclos de sentimentos nas pessoas.

Admiro cada um deles da mesma forma: o amor, a raiva, o medo, a alegria, a tristeza.

Confesso que tenho um pouco de pena da tristeza. Acho que ela é um sentimento subestimado, tratado injustamente como de segunda divisão. Muita gente acha que tristeza é frescura, ou perda de tempo.

Eu não. Acho que a tristeza tem um grande poder transformador. Ela é um aviso de que alguma coisa não vai bem. Como aquela luz que acende insistentemente quando seu carro está com pouco combustível.

Quando a tristeza não é doença, ela é uma oportunidade maravilhosa de rever a vida. Um convite para entrar no seu mundo particular mesmo que o mundo lá fora esteja pegando fogo.

Normalmente a tristeza precede alguma transformação. Eu acredito que seja o jeito que a vida dá pra gente tomar fôlego para o que está por vir.

Só que para extrair o que há de bom nela, é preciso recebê-la com carinho, com todas as honras, deixar ela chegar, deixar ela entrar, mas deixar a porta aberta, pra que ela queira logo ir embora, limpando e levando com ela tudo o que não serve mais.

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